Temos visto embate entre o movimento relacionado aos defensores dos princípios da governança, através de bibliotecas como o Cobit 2019, CMMI, Normas ISO, ITIL, entre outros, e aqueles que defendem uma abordagem através dos métodos ágeis para as organizações, pensamento que se embasa em fundamentos do Scrum, Lean, Kanban etc. Mas quais são as diferenças e semelhanças entre governança e ágil?
A governança está mais ligada a controles e tomada de decisão. O ágil, à flexibilidade.
Aqueles que defendem os métodos ágeis argumentam que a governança pode engessar a organização. Já os partidários da governança vêem o oposto: os processos como libertação, sem os quais a desorganização e os riscos serão elevados.
Mas será que o ágil e a governança são realmente opostos? Hoje, nosso objetivo é investigar essa relação, seus pontos de congruência e suas distinções.
As características do Ágil
Para analisar a situação, vamos começar listando os pontos principais do movimento ágil:
- Foco no desempenho
- Uso de métricas, KPIs, OKR, indicadores etc.
- Evitar desperdícios
- Aderir a um framework e modelo de trabalho
- Aumentar a visibilidade
- Transparência é a alma do negócio
- Resolver os problemas de maneira rápida
- Foco em entregas ágeis e que gerem valor
- Controle do prazo
- Foco na priorização
- Preferência por profissionais com papéis ao invés de cargos
- Dependência de feedback contínuo
- Preferência por uma metodologia de trabalho
- Foco em otimizar e automatizar
- Foco na eficiência e na visão dos resultados
- Foco na entrega de resultados
- Frequente tomada de decisões
- Gestão à vista
- Autonomia e empoderamento
- Provocam a sinergia e colaboração
- Monitoramento
- Atenção à Transformação Digital
- Preocupação com as pessoas
- Criação de valor
- Trabalho desempenhado em fases
- “Gestão é a alma do negócio”
- Uso de ferramentas de gestão e controles
- Objetividade através do uso de gráficos
E na governança?
Agora, vamos analisar cada uma dessas características listadas. Como a governança vê cada um desses itens:
-
Foco no desempenho e uso de métricas, KPIs, OKR, indicadores etc.
Não há como monitorar a governança sem monitoração de desempenho. Se a governança dita o direcionamento, o foco no desempenho é crucial para monitorar se estamos seguindo, de fato, o direcionamento apontado. E, para que isso seja feito, devemos analisar os indicadores, métricas, OKRs etc.
-
Evitar desperdícios
Alguns dos benefícios da governança são, justamente, a otimização dos recursos e a redução dos desperdícios.
-
Aderir a um framework e modelo de trabalho
Cobit, CMMI, Normas, ITIL e outras bibliotecas são frequentemente usados para governança.
-
Aumentar a visibilidade e transparência
Transparência é, também, fundamental para a governança. Uma empresa que vai abrir o capital na bolsa, por exemplo, precisa aplicar governança para garantir a transparência dos dados financeiros para os investidores.
-
Resolver os problemas de maneira rápida
Governança não é feita para deixar a empresa lenta, e sim para construir processos efetivos que facilitam a resolução dos problemas sem que se tenha que “inventar” uma prática “do zero” a cada nova situação. O gerenciamento de crise é um grande exemplo disso.
-
Foco em entregas ágeis e que gerem valor
O foco da governança também é entregar valor para as partes interessadas através da redução do desperdício.
-
Controle do prazo
Relatórios, compliance, auditorias e vários outros focos da governança dependem fundamentalmente do controle do prazo.
-
Foco na priorização
O foco na priorização se reflete em todos os processos da governança.
-
Preferência por profissionais com papéis ao invés de cargos
Não existe, por exemplo, uma equipe de gerenciamento de incidentes ou um gerente de mudanças como cargo. Isso é assumido, dentro da governança, como um papel, com o objetivo de otimizar recursos.
-
Dependência de feedback contínuo
Compreender o que os investidores, o mercado e as partes interessadas em geral estão achando da organização é parte fundamental da governança.
-
Preferência por uma metodologia de trabalho
Também uma parte essencial da governança, representada por suas práticas e processos.
-
Foco em otimizar e automatizar
Dois dos grandes focos do Cobit, por exemplo, são a otimização de riscos e a otimização de recursos. A automatização dos processos também não é colocada de lado pela governança.
-
Foco na eficiência e na visão dos resultados
As decisões são tomadas com embasamento no dashboard, ou seja, nos indicadores, métricas e números.
-
Foco na entrega de resultados
Isso está diretamente relacionado às partes interessadas na organização, elemento indispensável para o pensamento da governança.
-
Frequente tomada de decisões
Na governança isso também é verdade. Além disso, há uma hierarquia de tomada de decisões que as divide em três camadas: estratégica, tática e operacional.
-
Gestão à vista
Todos devem entender o direcionamento da governança pois a organização, como um todo, deve estar interligada. Se ocorrer uma falha em uma ponta, a outra ponta será afetada.
-
Autonomia e empoderamento
A governança visa treinar e capacitar as pessoas para que elas possam tomar decisões dentro do seu nível de expertise. A matriz RACI é um exemplo frequente dessa característica.
-
Provocam a sinergia e colaboração
Pois tudo o que é entregue por uma organização está intimamente ligado às partes interessadas e fornecedores, por exemplo.
-
Monitoramento
O monitoramento é novamente uma característica intrínseca ao dashboard.
-
Atenção à Transformação Digital
Apesar de não ser uma regra para todas as empresas, a concorrência e as rápidas mudanças trazidas pela transformação digital tendem a forçar as organizações a se enquadrar nas novas expectativas e formas de trabalho.
-
Preocupação com as pessoas
Trata-se de uma das responsabilidades sociais de qualquer organização.
-
Criação de valor
Governança trata de criar valor para as partes interessadas.
-
Trabalho desempenhado em fases
Também, na governança, há divisão de fases para tudo.
-
“Gestão é a alma do negócio”
Aqui, governança e gestão são a alma do negócio.
-
Uso de ferramentas de gestão e controles
Mais um aspecto essencial da governança.
-
Objetividade através do uso de gráficos
A governança é objetiva, pois o valor dos gráficos e métricas está na entrega de resultados.
Então o que difere entre ágil e governança?
Percebe-se, portanto, que as características principais da governança e do ágil são as mesmas.
Analisaremos, agora, os itens que diferem de uma abordagem para a outra:
-
Forma de entrega
Na governança: no projeto tradicional, divide-se o projeto em fase de planejamento, execução e entrega.
No ágil: a entrega é feita de forma iterativa, em que as fases de planejamento, execução e entrega são feitas múltiplas vezes ao longo do processo.
No entanto, qualquer um dos métodos podem ser adaptados dentro de suas abordagens.
-
O apetite ao risco
Na governança: em modelos mais tradicionais, muitas vezes prefere-se evitar os riscos quando isso é possível.
No ágil: a cultura de testes e de início rápido é mais intensa. Lida-se, todo o tempo, com a possibilidade e a realidade de tentativas fracassadas.
-
Experimentação vs. planejamento detalhado
Na governança: novamente, essa característica está associada ao alto risco atrelado às experimentações, principalmente em organizações grandes e consolidadas.
No ágil: a experimentação, o “errar rápido e aprender rápido” é o lema no Ágil.
-
A cultura da empresa
A implementação do ágil, em muitos casos, demanda uma transformação total da cultura de uma empresa, o que não é sempre possível ou, simplesmente, não é a intenção da organização.
-
O tipo de produto ou serviço que é vendido
O tipo de produto ou serviço de uma empresa influencia muito nas formas de trabalho e organização do trabalho. Um banco digital, por exemplo, está em uma posição muito mais favorável à aplicação do ágil do que uma fabricante de aço.
-
O volume de documentos
Em empresas que exigem mais documentação para estar em conformidade com as leis, por exemplo, o ágil pode trazer mais riscos.
Conclusão
Para finalizar, pense sobre as seguintes questões, cujo objetivo é causar a reflexão sobre a importância da governança para todas as organizações.
Você acha mesmo que:
- Investidores colocariam dinheiro em uma startup sem gestão ou direcionamento?
- Investidores colocariam dinheiro em uma empresa de inovação que são desorganizadas?
- Os reguladores irão pegar mais leve com uma empresa só porque ela tem uma pegada ágil?
- As leis serão menos severas para empresas ágeis do que para empresas que têm governança?
Não há desculpa para não implementar governança, pois:
- Os processos libertam e trazem agilidade.
- Nada impede que usem-se princípios ágeis para a aplicação da governança.
- Nada impede que implemente-se, até mesmo, uma governança ágil, pois os princípios são os mesmos.
- Chame do que quiser, mas a tomada de decisão é baseada em informações. E se tem informação, tem Governança.
- O COBIT mudou, a ITIL mudou, os Objetivos mudaram, o mundo mudou!